A eleição para a presidência do São Paulo ocorrerá somente em abril, mas Juvenal Juvêncio, atual mandatário Tricolor, já trabalha para disputar o cargo pela terceira vez consecutiva, colocando em xeque a tão discursada postura diferenciada da diretoria do clube.
A candidatura à presidência pelo terceiro mandato consecutivo vai contra o estatuto do time do Morumbi, no entanto Juvenal conta com o apoio do conselheiro Carlos Miguel Aidar, ex-presidente do clube e da OAB-SP para reverter a situação. Juridicamente o conselho do clube aprovaria uma nova reeleição se baseando na modificação do período de mandato de 2 para 3 anos, aprovada pelo conselho ainda na primeira gestão de Juvenal, em 2006. De acordo com Aidar, uma nova eleição de Juvenal seria a re-eleição do mandato de 3 anos, que é o vigente no clube. Desta forma, a eleição ganha em 2006 (mandato de 2 anos) não é levada em consideração devida a alteração no estatuto.
Enquanto Juvenal se anima com uma provável reeleição, rivais e velhos desafetos do São Paulo como Ricardo Teixeira e Joseph Blatter devem se divertir com o clube seguindo um modelo tantas vezes criticado.
Um terceiro mandato de Juvenal no São Paulo corresponderia a 8 anos seguidos de poder, tirando a possibilidade de renovação e novas ideias no clube. Os 8 anos de Juvenal ainda não chegam perto dos 14 anos seguidos de Alberto Dualib no Corinthias ou dos 12 de Mustafá Contursi no Palmeiras, mas muito se aproxima dos 9 anos de comando de Marcelo Teixeira no Santos. Em comparação com os rivais de São Paulo, Juvenal já tem a coincidência de ter realizado uma gestão vitoriosa, com títulos importantes. Resta ver se o clube repetiria a sequência de escândalos e crises que também marcaram as gestões de Dualib, Mustafá e Teixeira. E mais: uma reeleição de Juvenal é um prato cheio para Ricardo Teixeira (presidente da CBF) e e Joseph Blatter (presidente da FIFA), tantas vezes criticados pela cúpula são paulina pela intolerância e continuísmo no poder.
Juvenal assumiu a presidência em 2006 e foi reeleito em 2008. Durante o período em que esteve no cargo, pôde orgulhar-se de ter levado o São Paulo a mais méritos do que fracassos. O clube sagrou-se Tricampeão Brasileiro (2006, 2007, 2008), reforçou sua base com os investimentos no CT de Cotia, revelou jogadores e conseguiu lucrar alto com o zagueiro Breno e o meio de campo Hernanes. A diretoria Tricolor foi exemplo de profissionalismo e alavancou os investimentos no clube através de planejamentos bem definidos e ações de marketing que renderam camisetas, filmes e outras ações para a torcida. Dentre os aspectos negativos da gestão, os constantes atritos com a CBF, FIFA, diretorias de outros clubes e a demissão do técnico Muricy Ramalho foram os episódios mais marcantes.
A demissão de Muricy foi, por sinal, um capítulo a parte. Apesar do técnico não ter conseguido êxito na Libertadores da América, tão cobiçada pela torcida, conquistou de maneira inédita o Tricampeonato Brasileiro e fez do São Paulo um especialista em campeonatos disputados por pontos corridos. Planejamento e seriedade: essa foi a chave para uma gestão vitoriosa. No entanto, após 4 anos de muitas conquistas, as coisas começaram a mudar.
O ano de 2009 foi marcado por uma reviravolta pelos lados do Morumbi... Nova eliminação para um time brasileiro na Libertadores, demissão de Muricy Ramalho e a obsessão pelo projeto “Morumbi 2014”, que buscava colocar o estádio do clube como sede da capital paulista na Copa do Mundo de 2014. Contra tudo e contra todos o São Paulo tentou emplacar seu estádio para a Copa. Uma equipe foi contratada para o projeto. Arquitetos, engenheiros, advogados... Todos comandados por Juvêncio para redesenhar o estádio e os relatórios nunca aprovados pela estranha dobradinha entre FIFA e CBF.
Apesar de ter se dedicado exaustivamente para ter o Morumbi na Copa, Juvenal falhou e falhou feio. Se o clube vai contra a politicagem existente na FIFA e na CBF e se recusa a abaixar a cabeça no constante jogo de interesses existente no futebol, que não fosse tão longe na briga a ponto de “abandonar” o time em campo. Enquanto a diretoria brigava pelo Morumbi, o clube decaia e o torcedor São Paulino estranhava o comando de nomes sem expressão para o time em um momento tão conturbado. Contratações equivocadas, briga nos bastidores e demissões de profissionais como o Dr. Turíbio Leite de Barros que permaneceu 25 anos prestando ótimos serviços na área de fisiologia do clube. O motivo da demissão? Segundo a diretoria foi necessário realizar uma “reformulação”, mas a realidade aponta para um planejamento falho e constantes erros no comando do clube.
No final de 2010, o polêmico superintendente do departamento de futebol Tricolor, Marco Aurélio Cunha, foi a imprensa para comunicar que estava de saída devido a atritos com a diretoria e a falta de espaço para se fazer ouvir dentro do clube. Suas opiniões perderam espaço. O apoio a permanência de Muricy Ramalho e Ricardo Gomes não foi escutado. O conselho para a não-candidatura de Juvenal para um terceiro mandato, também não. Ao perceber que o poder no clube está cada vez mais centralizado e os conselheiros e dirigentes são cada vez menos levados em consideração, Marco Aurélio pediu as contas após oito anos de São Paulo, mas avisou que quer voltar um dia e, quem sabe, assumir a presidência.
Em um balanço geral, pode-se dizer que Juvenal mais acertou do que errou. O São Paulo cresceu nos últimos anos, ganhou títulos importantes e, consequentemente, torcida e interesse de patrocinadores. No entanto, o clube precisa de mudança e ela não está necessariamente na eleição de um candidato da oposição. A mudança está na atitude e na colocação da prática do tão famoso discurso da diretoria democrática, participativa e que respeita sua história e sua torcida.